Tuesday, February 22, 2005
Seca extrema revela aldeia submersa de Vilarinho das Furnas
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Diário de Notícias
By Susana Pinheiro
February 21, 2005
Revelada. A aldeia esteve 35 anos escondida pelas
águas da barragem que herdou o seu nome.
DN-Ursula Zangger.
Em Terras de Bouro, no Gerês, não se fala de outra coisa a aldeia comunitária de Vilarinho das Furnas, submersa durante 35 anos, está de novo a descoberto devido à seca e à descida das águas na barragem.
O fenómeno está a atrair centenas de curiosos de todo o País, mas também despertou a nostalgia dos antigos habitantes.
É o caso de João Rodrigues, que não esquece o fatídico ano de 1970, quando o rio engoliu dezenas de casas e teve de procurar outro local para viver.
Enquanto assiste à romaria de carros e de pessoas a pé, de mochila às costas, rumo à aldeia submersa, lembra as 52 famílias que abandonaram as suas habitações e campos de lavoura por causa da construção da barragem de Vilarinho das Furnas. Na ocasião, foram indemnizados. Mas não o suficiente "estão três mil hectares de terreno debaixo de água", lembra António Barroso, outro antigo habitante.
António Barroso vive a poucos quilómetros, na freguesia de Campo. João Rodrigues foi residir para mais longe, em Vila Verde, também no distrito de Braga. "Éramos muitas famílias e havia espírito de interajuda nas tarefas diárias", lembra. António Barroso acrescenta que na aldeia comunitária existia democracia um juiz governava uma espécie de assembleia e o povo elegia seis homens que legislavam. Realizava-se uma reunião semanal para resolver os problemas da localidade. "Vivíamos do que a terra nos dava e à custa do nosso suor".
António Barroso estava emigrado no Canadá quando a aldeia foi submersa, e confessa que lhe "faltou a coragem" para vir à terra assistir aos preparativos. Mas soube que muitos conterrâneos levaram as telhas e a madeira das casas, deixando a pedra sobre pedra à mercê do rio.
Em 1985, nasceu a Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho das Furnas, actualmente com 140 sócios. João e António pertencem à direcção. Já criaram o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, construído com as pedras da localidade. E prometem para breve o primeiro museu subaquático da Europa para que quem quiser possa mergulhar literalmente nas ruínas.
Entretanto, quis a natureza que a aldeia voltasse temporariamente à superfície. Por estes dias, a visita faz-se a pé pelas habitações quase intactas. Primeiro há que pagar aos guardiões, junto à barragem, e caminhar durante meia hora até à aldeia. O cenário é único. Desde escadas, passando pelos orifícios de janelas e de portas, até mesmo os lagares estão visíveis para lembrar histórias de outros tempos.
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Diário de Notícias
By Susana Pinheiro
February 21, 2005
Revelada. A aldeia esteve 35 anos escondida pelas
águas da barragem que herdou o seu nome.
DN-Ursula Zangger.
Em Terras de Bouro, no Gerês, não se fala de outra coisa a aldeia comunitária de Vilarinho das Furnas, submersa durante 35 anos, está de novo a descoberto devido à seca e à descida das águas na barragem.
O fenómeno está a atrair centenas de curiosos de todo o País, mas também despertou a nostalgia dos antigos habitantes.
É o caso de João Rodrigues, que não esquece o fatídico ano de 1970, quando o rio engoliu dezenas de casas e teve de procurar outro local para viver.
Enquanto assiste à romaria de carros e de pessoas a pé, de mochila às costas, rumo à aldeia submersa, lembra as 52 famílias que abandonaram as suas habitações e campos de lavoura por causa da construção da barragem de Vilarinho das Furnas. Na ocasião, foram indemnizados. Mas não o suficiente "estão três mil hectares de terreno debaixo de água", lembra António Barroso, outro antigo habitante.
António Barroso vive a poucos quilómetros, na freguesia de Campo. João Rodrigues foi residir para mais longe, em Vila Verde, também no distrito de Braga. "Éramos muitas famílias e havia espírito de interajuda nas tarefas diárias", lembra. António Barroso acrescenta que na aldeia comunitária existia democracia um juiz governava uma espécie de assembleia e o povo elegia seis homens que legislavam. Realizava-se uma reunião semanal para resolver os problemas da localidade. "Vivíamos do que a terra nos dava e à custa do nosso suor".
António Barroso estava emigrado no Canadá quando a aldeia foi submersa, e confessa que lhe "faltou a coragem" para vir à terra assistir aos preparativos. Mas soube que muitos conterrâneos levaram as telhas e a madeira das casas, deixando a pedra sobre pedra à mercê do rio.
Em 1985, nasceu a Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho das Furnas, actualmente com 140 sócios. João e António pertencem à direcção. Já criaram o Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, construído com as pedras da localidade. E prometem para breve o primeiro museu subaquático da Europa para que quem quiser possa mergulhar literalmente nas ruínas.
Entretanto, quis a natureza que a aldeia voltasse temporariamente à superfície. Por estes dias, a visita faz-se a pé pelas habitações quase intactas. Primeiro há que pagar aos guardiões, junto à barragem, e caminhar durante meia hora até à aldeia. O cenário é único. Desde escadas, passando pelos orifícios de janelas e de portas, até mesmo os lagares estão visíveis para lembrar histórias de outros tempos.
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