Thursday, April 28, 2005

 

Do paquete repleto de refugiados ao submarino 'U-1277' da Alemanha nazi

__________________________________________________________________________________

Diário de Noticias
By Alfredo Teixeira
March 28, 2005


'Vila do Porto' é uma das muitas embarcações visitáveis.

Durante longas décadas, a costa de Matosinhos ficou conhecida pelos marinheiros pelos piores motivos. O maciço rochoso que embeleza a totalidade das praias entre o Porto de Leixões e Angeiras serviu de ratoeira a muitas embarcações, nomeadamente à noite, em dias de tempestade e quando a sinalização luminosa era deficiente e ainda não existiam as comunicações via rádio. Além dos muitos barcos que se dedicavam à faina da pesca, também navios de grandes dimensões ali naufragaram. Por isso, os marinheiros baptizaram esta faixa costeira de Costa Negra. Um mundo de segredos e curiosidades por descobrir e que começa a estar agora ao serviço do turismo.

Mergulho no Passado é o nome da iniciativa lançada pela Câmara de Matosinhos que pretende mostrar essa outra faceta da localidade, conhecida por poucos mas muito ligada à natureza e ao ambiente, servindo de motivação para o turismo e para a investigação e conhecimento da História de Portugal. O que se pretende é que o mergulho subaquático praticado no local por alguns curiosos passe a despertar o interesse dos praticantes da modalidade de todo o País.

No caso particular dos navios afundados, as áreas de influência destes pontos de mergulho são, segundo Guilherme Pinto, vereador do Ambiente na autarquia matosinhense, "excelentes museus vivos, porque aglutinam o património industrial, constituído pelas embarcações, e um património natural riquíssimo, pela fauna e flora que utiliza estes destroços como coral artificial, funcionando estes como ecossistemas naturalizados".

Nas águas de Matosinhos é frequente encontrarem-se variadas espécies de medusas, agulhinhas, aranha-das-anémonas, santolas, taínhas, caboz, carapau e sardinha, bodião, polvos, chocos e lulas, peixe-porco e peixe-diabo, cenouras- -do-mar e estrelas. Manuel José Silva é mergulhador e especializou-se na fotografia subaquática. Acaba de lançar o livro Marés de Luz, que reúne alguns dos seus trabalhos. Afirma que já mergulhou em muitas zonas do mundo, inclusive no Mar Vermelho, mas "esta costa nada fica a dever aos melhores pontos de mergulho em beleza da fauna e da flora".

Com o objectivo de dar a conhecer o património histórico e ambiental existente foi desenvolvida uma sinalética que será colocada ao longo da costa, nos locais de afundamento de cada uma das embarcações. Esta sinalética, produzida em aço inox, vai conter imagens das embarcações aquando do naufrágio, seguidas de um texto explicativo do acontecimento, no qual são apresentadas as características do navio, como a sua dimensão, o número de tripulantes, a sua função, entre outras informações. Os locais de permanência desta sinalética foram escolhidos quanto à facilidade de acesso e à possibilidade de leitura de paisagem desde esses pontos. Assim, quem estiver particularmente interessado no naufrágio do Navio do Norte, o melhor ponto de observação é no parque de estacionamento da praia do Corgo, enquanto para vislumbrar o local onde o paquete de luxo Varonese se afundou e ler a memória descritiva dos acontecimentos o melhor é deslocar-se ao miradouro junto à Capela da Boa Nova.

Todos os mergulhadores interessados em explorar a costa de Matosinhos têm à sua disposição o apoio da autarquia que, através do seu gabinete de arqueologia, dispõe de um conjunto de compilações de documentos e relatos sobre as embarcações naufragadas. Já para encontrar a localização exacta, o melhor é recorrer ao Clube Mergulho Mania e à sempre disponível colaboração da Marinha Portuguesa que patrulha as águas desta costa com o navio Cacine, normalmente ancorado no Cais da Marinha, junto à Marina de Leça da Palmeira. Além da sua actividade de fiscalização das embarcações que navegam ao longo da costa, a Marinha apoia as actividades naúticas e de recreio, sendo frequentes as homenagens feitas aos marinheiros que pereceram nas águas, com rituais próprios deste ramo das forças armadas, e com a deposição de flores nos locais das tragédias.



Do paquete repleto de rejugiados ao submarino 'U-1277' da Alemanha nazi
Por trás das perigosas e aguçadas penedias está todo um mundo por descobrir. Além da deslumbrante flora estão as embarcações que, ao longo dos séculos, foram parte integrante de inúmeras tragédias, numa costa repleta de tristes recordações.

Assim, à entrada do Porto de Leixões encontram-se os destroços do Charneca, rebocador ao serviço da Lisnave que, a 16 de Fevereiro de 1986, ondas alterosas atiraram contra o molhe. O embate abriu um rombo no casco e afundou a embarcação. Da tripulação apenas sobreviveu um elemento.

Não muito longe deste local, também junto ao canal de entrada do porto estão os destroços do Jacob Maersk, petroleiro dinamarquês de mais de 261 metros e construído em 1966 e que ali se afundou, a 29 de Janeiro de 1975. O navio explodiu quando manobrava para atracar no terminal A de Leixões, o que resultou na morte de seis tripulantes de um total de 32. O incêndio lavrou durante três dias. Até 1996, este acidente esteve classificado em 12.º lugar na lista dos maiores derramamentos de crude a nível mundial.

A 200 metros da praia estão os destroços do Ruy Barbosa, paquete brasileiro de 149 metros, construído em 1913, que a 31 de Julho de 1934 encalhou quando navegava rumo a Leixões devido ao denso nevoeiro. A bordo estavam 125 tripulantes e uma centena de passageiros, a maioria dos quais judeus fugidos da Alemanha nazi com destino ao Brasil. Não houve vítimas.

O submarino alemão da Segunda Guerra Mundial é o que mais suscita a curiosidade dos mergulhadores. O U-1277 pertencia à classe VIIC41 e tinha o comprimento de 67,23 metros. Integrado na 11.ª flotilha de submarinos da Marinha de Guerra do Reich, deixou a base em Bergen, na Noruega, para aquela que foi a sua única missão de combate. A 4 de Maio de 1945 recebeu ordens para se render e se entregar no porto aliado mais próximo. O comandante decide, no entanto, afundá-lo na madrugada de 4 de Junho, ao largo do Cabo do Mundo.

Perto da Praia da Boa Nova está o Veronese, paquete inglês construído em 1906. A 16 de Janeiro de 1913, a embarcação encalhou devido ao forte temporal que se registava. Das 232 pessoas que seguiam a bordo salvaram-se 192. Junto ao molhe norte do Porto de Leixões encontram-se também os destroços do Vila do Porto, navio motor lançado à água em 1949. Encalhou e naufragou a 20 de Março de 1955, na sequência de um forte temporal no Leixão Grande.


____
www.dofundodomar.blogspot.com

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?