Friday, September 23, 2005

 

Séculos submersos

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Aventuras na História
By Andressa Rovani

Arqueólogos começam este mês a mapear os mais importantes naufrágios das águas brasileiras.

Eram 4h20 da madrugada de 6 de março de 1916 quando um relâmpago mostrou ao comandante José Lotina, do transatlântico Príncipe das Astúrias, que um rochedo estava próximo demais para um choque ser evitado. Ao som de marchinhas de carnaval tocadas por sua orquestra, o chamado "Titanic brasileiro", de 150 metros de comprimento, naufragou em menos de cinco minutos, levando junto mais de 500 passageiros. No fundo do mar de Ilhabela (SP), ele se tornaria a prova do mais mortífero naufrágio brasileiro.

Estima-se que entre 4 e 11 mil naufrágios ocorreram na costa e nos rios do Brasil desde que uma das naus da comitiva de Américo Vespúcio se desgarrou da frota e afundou em nossas águas, em 1503, inaugurando esse tipo de tragédia por aqui. Entre as embarcações, há tanto galeões espanhóis como navios de imigrantes europeus, ou submarinos alemães da Segunda Guerra Mundial.

Em busca desse tesouro de ferrugem estão piratas modernos e pesquisadores interessados no valor histórico das relíquias. O Centro de Estudos de Arqueologia Náutica e Subaquática (Ceans), da Universidade de Campinas, começa este mês um trabalho que não deve durar menos de cinco anos: mapear os naufrágios já descobertos no país. O inventário vai começar em Recife, conhecida como a capital dos naufrágios. "A idéia é criar mecanismos de proteção do patrimônio subaquático", diz Gilson Rambelli, diretor do Ceans e autor do livro Arqueologia até Debaixo D'Água.

Objetivos menos nobres também rondam o passado submerso no Brasil. Hoje, quem descobre um naufrágio pode ficar com 40% a 70% do que for encontrado. Em vez de baús cheios de ouro, os exploradores procuram objetos como âncoras, porcelanas e talheres, bens culturais de enorme valor. "Muitas vezes, o melhor e o mais importante do ponto de vista histórico fica com as empresas que patrocinam as expedições, desmantelando trabalhos arqueológicos relevantes", afirma Rambelli.

OS PRINCIPAIS NAUFRÁGIOS DO BRASIL
Quinhentos anos de história embaixo d'água

1- Nau Santa Rosa, Cabo de Santo Agostinho (PE), 1726
Um dos navios naufragados mais procurados no mundo, a nau Santa Rosa foi misteriosamente incenciada em alto-mar, afundando em 22 novembro de 1726 no litoral pernambucano. Levava a Portugal o Quinto (a porção de ouro das minas que pertencia à Coroa portuguesa), além de milhares de rolos de tabaco, caixas de açúcar (uma fortuna na época), couro, arcas de jacarandá e pedras semipreciosas.

2- Galeão Sacramento, Baía de Todos os Santos (BA), 1668
O galeão Santíssimo Sacramento naufragou quase na terra firme de Salvador, em maio de 1668. Ele escoltava uma frota de 50 barcos mercantes da Companhia Geral do Comércio do Brasil, incumbidos de trazer de Lisboa João Corrêa da Silva, que assumiria o governo da Bahia. O galeão afundou depois de chocar-se com um banco de areia. Foi a segunda maior tragédia marítima brasileira, com 400 mortos.

3- Princesa Mafalda, Abrolhos (BA), 1927
Rumo ao Brasil e à Argentina, 1.261 imigrantes italianos, iugoslavos, espanhóis e austríacos se espremiam no navio. Às 17h20 do dia 25 de outubro, todos sofreram o mesmo pavor: a água inundava o navio. Aglomerados na proa, os que restavam na embarcação viram seus colegas de viagem serem devorados por tubarões. Graças ao resgate rápido feito por outros navios, o número de mortos ficou em 314.

4- Fragata H.M.S. Thetis, Cabo Frio (RJ), 1830
Em 1810, o Tratado de Comércio e Navegação assinado por Inglaterra e Portugal aumentou as exportações inglesas para o Brasil. Um dos navios que traziam tecidos, ferramentas e farinha e voltavam com o pagamento, a fragata Thetis chocou-se com rochas, provocando a morte de 29 dos 300 tripulantes. A recuperação das barras de ouro e prata foi a primeira grande operação de resgate de tesouros no país.

5- Príncipe das Astúrias, Ilhabela (SP), 1916
O transatlântico afundou quando passava pelo Brasil rumo a Buenos Aires. Foi o maior desastre em águas brasileiras. Oficialmente iam a bordo 578 pessoas - mas havia centenas de clandestinos apinhados no porão. O Astúrias levava ouro e, no convés, 12 estátuas de bronze para um monumento, em Buenos Aires. O resgate dessas riquezas, feito com explosivos, destruiu parte do navio.

6- Submarino U-Boat 513, Ilha de Sta. Catarina (SC), 1943
O poderoso U-boat 513 (de "unterseeboot", submarino em alemão) era um dos 20 que faziam parte da ofensiva do Alto Comando alemão para impedir o apoio da América Latina aos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra. Na tarde do dia 19 de julho de 1943, uma de suas conversas por rádio foi interceptada. Identificado, foi atacado por um avião americano, naufragando em segundos com 46 tripulantes.


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www.dofundodomar.blogspot.com

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