Wednesday, November 02, 2005

 

O fantasma de Mombaça

_________________________________________________________________

Do Fundo do Mar
By Jean-Yves Blot
November 02, 2005



A cidade de Beja vai ser palco amanhã de um acontecimento breve, raro e exótico animado por Robin Piercy, um homem alto e loiro, britânico de passaporte, residente na Turquia, arqueólogo submarino de profissão.

A relação de Beja com Mombaça, cidade e porto, jóia tropical do Indico africano, passa por um barco português construído em Baçaim, na Índia, hoje a uma hora de comboio de Bombaim. A história não poderia ser mais internacional. Começou por um drama, mais um, da fase decadente da presença portuguesa no Índico, em 1697. Acabou no final dos anos 1970 como um projecto científico pioneiro envolvendo arqueólogos e mergulhadores de diversos países do mundo, num palco restaurado entretanto com a ajuda da Fundação Gulbenkian.

A aventura arqueológica teve início há trinta anos, quando Robin Piercy, o visitante da noite de amanhã em Beja, recebeu um pedido fora do habitual, um grandioso salto no tempo e na geografia. Piercy tinha até então dedicado o essencial da sua carreira aos navios da antiguidade do Mediterrâneo oriental onde ele e os seus colegas do Instituto Americano de Arqueologia Náutica (AINA), sedeado em Filadelfia e em Bodrum, na Turquia, exploravam os naufrágios que lhes assinalavam os mergulhadores turcos pescadores de esponjas.

Desta vez, tudo foi diferente. O navio era de teca indiana, encontrava-se em Africa a mais de dez metros de profundidade, afogado no lodo e no esquecimento, a um tiro de canhão das muralhas verticais da fortaleza de Jesus, em Mombaça, no Quénia.

Em 1977, no fim da primavera, ainda se viam no porto de Mombaça os dhows, navios a vela árabes recém-chegados da Índia com a monção.

O navio de que Robin Piercy vai falar amanhã, quase trinta anos depois, chama-se Santo António de Tanna. Os dhows já não vem a Mombaça mas o Santo António ainda lá está, na água escura do braço de mar que liga o Índico à pequena cidade e porto africano.

Para lá ficaram as madeiras de teca, os querubins que decoravam a popa, os pratos de faiança portuguesa com motivos de aranhões, os medalhões de madeira de azeviche esculpidos a faca pelos marinheiros de bordo como nomes de mulheres perdidas ou paixões evaporadas, «Tareza», «Amor», as cerâmicas moçambicanas trazidas a bordo numa escala anterior, o pequeno canhão de berço em bronze, rasgado por uma bala de ferro do inimigo, a madeira de teca torneada das camas da Índia luso-colonial que vinham a bordo, carga ou mobília.

Amanhã quinta-feira, 3 de Novembro, em Beja, as 21.30 h, no anfiteatro do Liceu (Escola Secundária Diogo Gouveia). A conferência será traduzida em simultâneo para português.

Organização: Centro Cultural de Beja. Tel. 284323879


____
www.dofundodomar.blogspot.com

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?