Sunday, January 01, 2006

 

O lendário Mar dos Sargaços: naturalmente estranho e o mais notório do planeta

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Do Fundo do Mar
By Elísio Gomes Filho
January 01, 2006


Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço.


Fernando Pessoa


Os navegadores portugueses no início da sua Expansão Ultramarina além de descobrirem os arquipélagos da Madeira e dos Açores, também se depararam no Atlântico Norte, com o “Mar de Sargaço” ou “Mar de Baga”, nomes dados por eles para aquela região, devido a grande concentração de algas existentes: do gênero sargassum, as quais criam ali um ecossistema bizarro.

Na carta portuguesa de Bianco, datada de 1436, já figurava o Mar de Baga, ou de Sargaço, situando-o ao sudoeste dos Açores, denunciado assim viagens lusitanas muito mais extensas que a viagem de Lisboa às Canárias.

Localização e dimensão
O Mar dos Sargaços é uma área com menos ventos, chuvas e nuvens, comparada com outras áreas do Oceano Atlântico e fica localizado em sua parte norte indo desde 30º a 70 º oeste e de 20º a 35º (uma área no sudoeste central do Atlântico, ao norte das Bermudas). É uma zona imensa, com mais de 3.500 quilômetros de comprimento por 1.600 de largura e pertence em parte à área do chamado Triângulo das Bermudas, aonde o tráfego dos meios de transporte é elevado, isto é, envolve uma grande circulação de aviões e navios. Esse mar de forma elíptica, que tem aproximadamente o tamanho de Austrália, alcança profundidades de 5.000 a 23.000 pés. O profundo e azul Mar dos Sargaços está cercado por todos os lados por correntes que faz com que ele gire lentamente na direção dos ponteiros de um relógio. A correntes introduzem águas mornas, que o mantêm morno.

Contam as crônicas marítimas, que os primeiros navegantes espanhóis que atravessaram aquela zona do Atlântico, foram tomados pelo medo, pois pensavam que iriam encalhar na costa, uma vez que a presença das algas amarelas, escuras e verdes povoadas por animais marinhos exóticos, obviamente indicavam que estavam próximos da terra. Mas por séculos o Mar dos Sargaços foi temido pelos navegantes por causa de sua calmaria atmosférica.

As latitudes dos cavalos
As latitudes dos cavalos é a região entre os ventos alísios e os ventos predominantes de oeste (um cinturão de mar tranqüilo situado entre a latitudes 30º e 35º), uma zona que é variável, mas fica sensivelmente 10º norte e sul do Equador.

Os ventos são em geral, implacavelmente calmos ou fracos, o que lhe vem ainda mais imprimir, um aspecto estranho à região. As latitudes dos cavalos conta com uma origem bastante singular. Denomina-se assim, porque sendo uma região onde as calmarias duram dias ou semanas e nos séculos da navegação à vela (principalmente no tempo da expansão ultramarina espanhola em direção ao Novo Mundo), vinha acarretar a diminuição periclitante da reserva de água e alimento a bordo das embarcações e as primeiras vítimas eram os cavalos. Sendo que os mais fracos eram os primeiros a serem atirados borda fora, quando se tornava impraticável sustentá-los. Mas consta, que alguns eqüinos então enlouquecidos pela sede, mergulhavam no mar. Ora, os marujos mais supersticiosos acreditavam que os “fantasmas” dos cavalos sacrificados acabavam assombrando a região.

Consta que nas latitudes dos cavalos, o ar atmosférico vinha às vezes se encontrar tão inerte, que os marujos à noite podiam ler no convés, à luz de velas. E está registrado, que alguns veleiros ficaram ali retidos por falta de vento, por até três meses seguidos.

Depois de Colombo, aqueles que o seguiram em direção ao Novo Mundo, iam espalhando boatos e mais boatos, que infundiam ainda mais medo às almas supersticiosas dos marujos, especialmente entre os conquistadores espanhóis, que constantemente cruzavam a região. As histórias que se espalhava eram aterradoras baseadas na real situação de que os navios à vela por causa das calmarias dos ventos, forçosamente ficavam retidos por longos períodos nas já citadas latitudes dos cavalos.

Cemitério de navios: uma região estigmatizada
Acontece que variados tipos de destroços sempre chegaram ao centro do Mar dos Sargaços, e ali ficam estacionados até que acabam por afundar. Suspeita-se que a maior parte das algas sargassum venha do Golfo do México, trazidas pela Corrente do Golfo e também do Caribe. Uma outra característica fascinante é a sua capacidade de extrair objetos de toda sorte do Atlântico. Consta que troncos de árvores que foram arrancados das margens dos rios situados na América Central, também ali chegaram. Aliás, os detritos de qualquer rio podem chegar ao Mar dos Sargaços. Em 1968, verificou-se que havia mais óleo e pixe no Mar dos Sargaços, oriundos de todas as parte do planeta, do que de algas.

Obviamente com o correr dos tempos, uma série de navios movidos à vela, seriam encontrados abandonados no Mar dos Sargaços, principalmente nas latitudes dos cavalos, o que veio criar em torno da região, a sombria reputação de ser um cemitério de embarcações. Entre as embarcações, figura a James B. Chester, encontrada abandonada em 1857. Os navios abandonados do século XX, incluem o Connemara IV, que foi encontrado a 140 milhas das Bermudas em setembro de 1955.
E acrescenta-se mais um número de iates e outros veleiros encontrados em 1969 e em 1982.

Mas nos séculos que a navegação dependiam dos ventos, as crônicas marítimas registram que as tripulações que não conseguiam abandonar seus navios, acabavam morrendo de sede e de fome e os barcos então se transformariam em cascos apodrecidos, repletos de esqueletos humanos. Ora, estando os veleiros ali retidos, sem ter vento para os impulsionar, forçavam as sua tripulações a abandonarem os navios. E assim, embarcavam nos barcos de serviço, a fim de remar fora daquela zona de calmarias, buscando encontrar ventos, para então com as velas das pequenas embarcações seguir em direção de áreas aonde pudessem ser socorridas por outros navios, ou de tentar tocar em terras situadas em regiões distantes, tais como as ilhas Bermudas.

E os autores ficcionistas, obviamente não deixariam de engendrar contos fantásticos e exagerados sobre o Mar dos Sargaços. Escrevendo por exemplo que no centro daquele imenso e estagnado mar se criaram civilizações, oriundas das tripulações que ali ficaram prisioneiras. E contam, que entre os amontoados de carcaças de navios, existiam fabulosos tesouros, mas os quais eram desprezados, porque de nada serviam para aqueles que viviam presos e esquecidos naquele mar de algas.


Elísio Gomes Filho é historiador, responsável pelo site www.nomar.com.br (Historidores do Mar)


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www.dofundodomar.blogspot.com

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