Sunday, February 05, 2006

 

Homenagem às Guarnições das Lanchas de Desembarque que Serviram em África

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Revista da Armada Nº 391
By Abel Melo e Sousa (CFR RES)



A Marinha está a ganhar o hábito de monumentalizar antigas embarcações e navios. Começou com a Escola de Fuzileiros com uma LDP, agora foi uma LDM, e em breve os três submarinos irão ser conservados em Viana do Castelo, em Cascais e na própria Esquadrilha de Submarinos.

Quem hoje circula na Base Naval de Lisboa irá encontrar, algumas dezenas de metros antes da entrada da Base de Fuzileiros, uma antiga Lancha de Desembarque Média – LDM 119 – colocada em plano elevado sobre seixos brancos, como que a vencer as ondas do mar.
Pois, foi no passado 16 de Setembro que se homenagearam todos os Marinheiros que em África (1961 - 1974) serviram nas Lanchas de Desembarque, implantando-se para tal uma LDM na vizinhança da unidade operacional dos Fuzileiros, tropa especial que conheceu como ninguém o esforço e o valor das tripulações das LDM`s.

Bem cedo a Base de Fuzileiros começou a concentrar caras de outros tempos, entre oficiais, sargentos e praças, não se distinguindo uns e outros, um pouco na tradição naval, mais parecendo um grupo de velhos amigos a recordar histórias idas, mas que necessariamente tinham a ver com relatos e peripécias das lanchas em África.

Para a história os seus nomes: SAJ M REF Jacinto Martins /Angola 70-72 / LDM 409; SAJ M REF Domingos Coelho / Guiné 68-70, 71-74 / LDM 309; SAJ M José Moreira / Guiné 68-70, 71-73 / LDM 105; CAB M João Leandro / Guiné 70-74 / LDM 303.

UMA LDM JÁ ABATIDA PASSA A MEMORIAL

Por decisão do ALM CEMA, e no seguimento da política de aproveitamento de antigos navios da Marinha - caso dos submarinos que irão ficar na Esquadrilha de Submarinos, e nos Concelhos de Cascais e Viana do Castelo - utilizou-se a LDM 119, depois de totalmente recuperada no Arsenal do Alfeite, para servir agora como memorial.

A LDM 119, construída em 1973 no Arsenal do Alfeite e abatida em 1997, serviu na Unidade de Apoio a Meios Aquáticos (UAMA), mais tarde com a designação de Unidade de Meios de Desembarque (UMD), e teve como principais missões a instrução de alunos, e o adestramento das Unidades de Fuzileiros.

A implantação da LDM 119 esteve a cargo da Direcção de Infra-Estruturas (DI), sendo o projecto da autoria do Arquitecto Eduardo Liber-mann e executado pela firma Brera Lda. A LDM encontra-se assente em dois «gabions» (muros de suporte por gravidade), proporcionando-lhe uma elevação em relação ao terreno que, associada à colocação de seixos rolados grandes debaixo do casco, faz lembrar a actividade operacional daquelas lanchas.

A LDM 119 conserva o seu aspecto original, com todos os seus equipamentos, dir-se-ia pronta a navegar, podendo-se inclusivamente observar o poço interior, em virtude da porta se encontrar abatida. À noite o efeito do sistema de luzes é soberbo, transportando-nos inevitavelmente para um qualquer rio das mágicas noites africanas…

AS LANCHAS MÉDIAS E PEQUENAS NO ULTRAMAR


O arranque das primeiras unidades de fuzileiros, na sequência do eclodir da guerra em África em 1961, veio criar a necessidade da construção de lanchas de desembarque. Depois de adquiridas algumas embarcações em segunda mão, foram adquiridos os planos de construção das lanchas utilizadas no último conflito mundial, e desenvolvidos os projectos de execução em estaleiros nacionais. Foram construídos então três modelos de lanchas: pequenas (LDP), médias (LDM) e grandes (LDG), estas últimas fora do contexto deste artigo. As classes pequenas abrangeram as classes LDP 100, LDP 200 e LDP 300. Nas lanchas médias foram criadas as classes LDM 100, LDM 200, LDM 300 e LDM 400. No total foram, entre 1961 e 1976, construídas 26 LDP`s e 65 LDM`s, o que para a altura se podia considerar um esforço verdadeiramente excepcional.

A sua distribuição pelo Ultramar foi a seguinte: Guiné - 51, Angola - 15 e Moçambique - 7, ficando algumas na Metrópole para treino dos fuzileiros. As LDM`s dispunham de uma peça Oerlinkon Mk II de 20 mm e duas metralhadoras MG 42, a sua velocidade máxima era na ordem dos 9 nós e podiam transportar uma força de 80 homens.

O esforço de guerra para estas lanchas, nos três teatros ultramarinos atingiu a sua maior expressão na Guiné, não só pelo maior volume de patrulhas e acções, mas também porque registaram as únicas baixas em combate. Dada a especificidade daquela ex-província – recortada por inúmeros rios – as lanchas eram primordiais na ligação entre os diversos pontos do território, essenciais no patrulhamento e fiscalização das vias fluviais, e insubstituíveis em desembarques operacionais de unidades militares. Uma das mais nobres missões destes pequenos grandes navios, consistia ainda no apoio logístico às unidades militares estacionadas fora de Bissau, que não teriam sobrevivido sem as suas visitas regulares, muitas vezes integradas em comboios civis de reabastecimento.

LDM 302, UM CASO RARO

Na Guiné destaque ainda para a LDM 302, que registou oito ataques graves durante a sua vida. Os dois primeiros verificaram-se em 1964, sem consequências, ocorrendo nova flagelação em 1965, da qual resultaram 30 impactes no costado, não se registando baixas no seu pessoal, para o que muito contribuiu a resposta imediata e eficiente da sua guarnição. Nesse ano foi atacada de novo por mais duas vezes, sendo na última feridos 10 militares de uma unidade do Exército embarcada na lancha.

No dia 16 de Dezembro de 1967 foi atacada e afundada no rio Cacheu, incidente que ocasionou a morte do seu patrão, MAR M Domingos Lopes Medeiros, e do GRT A Manuel Santos Carvalho. Foram ambos condecorados a título póstumo na cerimónia do 10 de Junho de 1968, com a medalha de Cruz de Guerra de 3ª classe. Trazida à superfície, a LDM 302 foi reparada em Bissau, e posta de novo a navegar. Logo no primeiro cruzeiro, seis meses depois e no mesmo local onde tinha sido anteriormente atacada - Porto Coco, no rio Cacheu - foi de novo atingida com violência, o que teve como consequência a morte do GRT A António Manuel, e ferimentos noutra praça.

De novo reparada, a lancha já não voltou mais ao Cacheu, passando a actuar no rio Grande de Buba, onde mais uma vez sofreu em Fevereiro de 1969 novo ataque, que causaram três feridos. Seria abatida em 30 de Novembro de 1972.


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